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Prova surpresa!

  • gladysquevedo3
  • 17 de jun. de 2024
  • 2 min de leitura

Uma cena que acontece em muitas escolas: a professora chega na sala de aula e começa sua aula. A turma não presta atenção a ela, continua no maior bate papo. Ela se irrita, e fala em alto e bom tom:


- Peguem uma folha do caderno. Hoje tem prova surpresa.


Os alunos se espantam, reclamam, mas não tem jeito. A prova é aplicada, a professora sente-se vingada e os alunos, revoltados.

Nesse contexto, a prova surpresa se constitui em um instrumento de punição usado pela professora quando seu controle sobre a classe está ameaçado. É um ato de desespero, um pedido de socorro.

Pedagogicamente falando, essa prova não tem nenhuma função a não ser ameaçar os alunos com a possibilidade de ficarem com nota baixa. Além disso, o uso de provas- surpresa presta um enorme desserviço à educação e à área da avaliação, na medida em que lança mão de um instrumento importante, que poderia subsidiar a aprendizagem, para punir e reforçar uma relação de poder abissalmente desigual. Sim, uma prova pode subsidiar a aprendizagem embora seja um instrumento tipicamente associado à avaliação somativa. Como? Se ela for usada formativamente, ou seja, se a professora se valer dela para mostrar aos alunos, e discutir com eles, os "erros" que cometeram. Assim, a discussão servirá para retroalimentar a aprendizagem, por meio desse feedback de qualidade. Esse uso formativo de um instrumento que, como já disse, é tipicamente somativo, nos abre os olhos para o fato de que a função da avaliação não está no instrumento, mas no uso que se faz dele.

A prova surpresa fere, no mínimo, quatro princípios chave da avaliação: o princípio da validade, pois os resultados obtidos dos alunos não são válidos, isto é, não retratam, de fato, o que os alunos sabem ou conseguem fazer com o conhecimento que possuem; o princípio da confiabilidade, pois os resultados obtidos sob circunstâncias de pressão e revolta não serão iguais aos resultados obtidos em outro momento, em que os alunos tiverem condições de se preparar; o princípio do efeito retroativo, pois a prova surpresa certamente provocará impacto negativo nos alunos; e, acima de tudo, o princípio da ética, pois a aplicação da prova surpresa em si é um ato desrespeitoso para como aluno, além de ser carregado de tendenciosidade por estar sendo realizada com a intenção de punir os alunos por não darem atenção à professora.

Dessa forma, uma prova surpresa, enquanto instrumento de avaliação, está longe de cumprir o papel de mola propulsora da aprendizagem, como diz a professora Matilde Scaramucci. A prova surpresa só serve para reforçar sentimentos negativos em relação à avaliação, reafirmar o poder e o controle da professora, distanciar os alunos da aprendizagem e causar revolta. Provas surpresa, na minha opinião, devem ser banidas.

1 Comment


Maria Regina Filgueiras
Maria Regina Filgueiras
Jun 23, 2024

Concordo plenamente. Prova surpresa, além de nenhuma finalidade pedagógica, denigre o significado da palavra surpresa, sempre relacionada a algo bom.

Parabéns, Gladys. Sempre atenta às questões da educação.

Saudades tb!

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