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“Onde se puxa uma pena, vem uma galinha”

  • gladysquevedo3
  • 24 de set. de 2024
  • 3 min de leitura


“Abordar o problema da avaliação é, necessariamente, tocar em todos os problemas fundamentais da pedagogia. Quanto mais penetramos no domínio da avaliação, mais tomamos consciência do carácter enciclopédico da nossa ignorância e cada vez mais pomos em causa as nossas certezas. Cada tema arrasta outro consigo, cada árvore oculta outra árvore, e a floresta afigura-se-nos sem fim.”

(De Ketele, 1993, p. 11 apud Cardinet, 1993, p. 17)


Ao referenciar De Ketele no início dos anos 1990, Cardinet destacava a complexidade e a interconexão dos temas que envolvem a avaliação na educação. Embora temporalmente distante de nós, a complexidade e a interconexão são intensas na atualidade e nos levam a refletir sobre questões muito importantes relativas à formação de professores de línguas adicionais no Brasil. 

Na formação de professores de línguas, por exemplo, a avaliação não deve ser apenas uma ferramenta de classificação ou mensuração, mas parte de um processo reflexivo que integra teoria e prática. Ao aplicar uma avaliação diagnóstica, o professor deve considerar não apenas o desempenho dos alunos, mas também a eficácia das metodologias utilizadas. Isso exige uma reflexão crítica sobre as abordagens pedagógicas, como o uso de atividades comunicativas versus abordagens mais tradicionais.

Com relação à diversidade cultural e linguística, o Brasil é um país de grande diversidade, o que deve ser levado em conta na elaboração de instrumentos para avaliar.. Uma avaliação que não considere o contexto cultural dos alunos pode falhar em capturar verdadeiramente suas habilidades.

A escolha entre avaliação formativa e somativa, ou avaliação da/para/como aprendizagem também revela questões pedagógicas mais amplas. A avaliação formativa permite que os professores ajustem suas práticas com base no feedback contínuo dos alunos e na relação dialógica que se estabelece. Por outro lado, a avaliação somativa pode reforçar um enfoque mais rígido e menos reflexivo. Um exemplo prático seria a implementação de portfólios, nos quais os alunos coletam e refletem sobre seu trabalho ao longo do curso, promovendo uma aprendizagem mais autônoma.

Na mesma linha, a autoavaliação é um aspecto importante na formação de professores. Ao ensinar os futuros educadores a se autoavaliarem, estamos não apenas promovendo um senso crítico sobre sua prática, mas também incentivando uma cultura de aprendizado contínuo. 

Outra questão que merece ser mencionada é o impacto das tecnologias educacionais. Com a crescente incorporação de tecnologias na educação, a avaliação também deve considerar como essas ferramentas podem enriquecer o aprendizado. Por exemplo, o uso de plataformas digitais para simulações de situações reais de comunicação em línguas adicionais pode oferecer uma nova dimensão à avaliação, mas também levanta questões sobre a equidade no acesso a essas tecnologias.

A avaliação na formação de professores de línguas adicionais no Brasil é um tema multifacetado que exige uma abordagem crítica e reflexiva. Como a citação sugere, ao explorar este campo, somos confrontados com a complexidade da prática pedagógica e a necessidade de constantemente reavaliar nossas certezas e metodologias. Cada aspecto da avaliação revela novos desafios e oportunidades, tornando a formação docente um processo dinâmico e em constante evolução.

Como disse um dia o falecido ministro do STF Teori Zavascki, “Onde se puxa uma pena, vem uma galinha”! E quando falamos de avaliação, é exatamente assim!


Fonte da citação

Cardinet, Jean. Avaliar é medir?. Portugal: Edições Asa, 1993.

DE KETELE, Jean-Marie. L’évaluation conjuguée en paradigmes. Revue Française de Pédagogie, Lyon, n. 103, p. 59-80, 1993.


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