O que precisa mudar para que a avaliação ocupe sua posição de protagonista junto ao ensino e à aprendizagem de línguas?
- gladysquevedo3
- 20 de mai. de 2024
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Atualizado: 21 de mai. de 2024

Todos sabemos que não há correspondência direta entre o que ensinamos em nossas salas de aula e o que nossos alunos aprendem. Diante dessa constatação, a avaliação se apresenta como o principal processo a constituir uma instrução eficiente. Afinal, se ensinar equivalesse a aprender, não precisaríamos avaliar; bastaria registrar o que foi ensinado. No entanto, sabemos que, por melhor que sejam nossas aulas e nossas opções metodológicas, não conseguimos saber com exatidão o que nossos alunos aprenderam. Portanto, é somente por meio da avaliação que conseguimos saber se houve algum aprendizado e em que ele se constituiu. Nesse sentido, a avaliação é uma ponte entre ensinar e aprender (WILIAM, 2013).
Essa ponte se materializa por meio de práticas avaliativas que privilegiem a aprendizagem em si, e não a mensuração do conhecimento. Tais práticas devem, necessariamente, responder às seguintes perguntas: onde o aluno está agora?; onde ele precisa chegar?; e como ele vai chegar onde precisa? Essa é a perspectiva da avaliação para aprendizagem (CARLESS, 2007), um conceito que, embora não seja novo na área de ensino e aprendizagem de línguas adicionais, merece nossa atenção pelo seu grande potencial de suporte ao desenvolvimento do uso da língua em práticas sociais.
Quando nos conscientizamos que a avaliação pode auxiliar a aprendizagem, valorizamos e empregamos cinco estratégias (WILIAM, 2013):
envolver os alunos na elaboração dos objetivos de aprendizagem daquela unidade, daquele módulo ou bimestre; a ideia é que, ao participarem ativamente dessa etapa, eles se apropriem desses objetivos e tenham clareza do que esperamos deles em termos de desempenho;
elaborar um plano de coleta e utilização das evidências do desempenho dos alunos; dessa forma, ao identificar possíveis problemas, já sabemos como agir para auxiliar os alunos em pontos específicos;
oferecer feedback positivo e propositivo, de forma que vá ao encontro das necessidades do aluno e o estimule ao aprimoramento; aqui, conhecer os alunos é fundamental, pois isso permite que, por meio da relação de confiança entre professor e alunos, possamos orientá-los a trabalhar sobre seu próprio aprendizado, favorecendo, ao mesmo tempo, o desenvolvimento da sua autonomia;
estimular a colaboração entre os alunos durante a realização de atividades ou trabalhos com foco no aprimoramento e não no julgamento ou na atribuição de notas; essa modalidade de avaliação em pares ou pequenos grupos possibilita o auxílio mútuo e fortalece a atenção aos objetivos a serem alcançados naquele momento;
ajudar os alunos a perceberem que errar faz parte do processo de aprendizagem, e que é por meio do erro, do acerto e da prática que nos apropriarmos; o desafio de nos aprimorarmos de um conhecimento novo deve ser motivo de estímulo, e não de desencorajamento.
Essas estratégias servem de parâmetro para um trabalho com a avaliação voltado para o aluno e para dar suporte ao seu processo de aprendizagem, mas devem necessariamente ser adaptadas aos diferentes contextos de trabalho do professor. Não existe receita pronta. O que existe é a necessidade de nós, professores, termos conhecimento sobre os princípios que devem ser respeitados para que nossas práticas avaliativas sejam válidas, confiáveis, justas e coerentes com a nossa realidade e o nosso contexto. Isso equivale a desenvolvermos o que se chama de letramento em avaliação de línguas (QUEVEDO-CAMARGO; SCARAMUCCI, 2018; STIGGINS, 1991). É somente através do fortalecimento de tal letramento que materializaremos a avaliação como essa ponte forte e robusta a ocupar a posição de protagonista no ensino aprendizagem de línguas adicionais.
Leia na íntegra:
QUEVEDO-CAMARGO, G. O que precisa mudar para que a avaliação ocupe sua posição de protagonista junto ao ensino e à aprendizagem de línguas?. In: APLIEPAR Monthly Newsletter: Assessment in action, Londrina/PR, p. 4 - 5, 03 ago. 2020.
References:
CARLESS, D. Learning-oriented assessment: conceptual bases and practical implications. Innovations in Education and Teaching International, 44(1), p. 57-66, 2007.
STIGGINS, R. Assessment literacy. Phi Delta Kappan, 72, p. 534-539, 1991.
QUEVEDO-CAMARGO, G.; SCARAMUCCI, M. V. R. O conceito de letramento em avaliação de línguas: origem de relevância para o contexto brasileiro. Linguagem: Estudos e Pesquisas, 22(1), p. 225-245, 2018.
WILLIAM, D. The bridge between teaching and learning.Voices from the Middle, 21(2), p. 15-20, 2013.


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